Modelos Plus Size: expressão de moda e representatividade

Roupas podem ser revolucionárias. Elas marcam uma época como símbolos de inovação, desenvolvimento, contestação, protesto e identidade. Entretanto, a moda também é limitadora ao estipular quem pode adotar tais discursos e aderir a tendências. O padrão são corpos que não refletem a maior parte da população, excluindo aqueles que não se enquadram em um ideal de beleza.

Sem inclusão, corpos fora do padrão são, muitas vezes, impedidos de se expressarem. Isso torna o ato de se vestir um momento desanimador e de sofrimento, por não ter peças em tamanhos maiores ou de boa qualidade e beleza. “Vestir, muitas vezes, é um ato político”, diz Luciana Celestino, cofundadora da marca FALA, “principalmente quando falamos de corpos fora do padrão”.

Foi para tratar dessas dores que surgiu a marca FALA, uma cooperativa familiar conduzida por Luciana Celestino e Alline Fregne que confecciona roupas all size e sem distinção de gênero. Ela atende a mulheres e a homens que vestem do 38 ao 60, produzindo também sob demanda para pessoas com deficiência. Personalidades como Linn da Quebrada e Emicida vestem e apoiam a marca. “Todas as pessoas merecem ter acesso a roupas de boa qualidade, bonitas e confortáveis”, diz Luciana.

Além da inclusão, a FALA tem a sustentabilidade como propósito. Todo o processo é pensado para diminuir o impacto ambiental e gerar impacto social, dando emprego a grupos da comunidade LGBTQIAP+ e a pessoas pretas, por exemplo. O Dicas de Mulher conversou com as fundadoras da FALA sobre as representatividades promovidas pela marca, o processo de produção e os futuros projetos para reduzir ainda mais o lixo têxtil. Confira!

Dicas de Mulher – Como surgiu a marca FALA? Por que ela recebeu esse nome?

Luciana Celestino – Eu e Alline somos amigas há mais de 20 anos e, durante nossas trocas, há oito anos, surgiu a FALA. Eu já trabalhava no mercado da beleza e Alline fazia peças para outras marcas, além de fazer também alguns bazares na sua casa. Ela sempre me chamava para ir, mas as roupas ficavam na grade padrão e eu usava 48 na época, não tinha roupas pra mim. A Alline acabava fazendo algumas peças especialmente para mim. Com a maternidade e o desejo de empreendermos juntas, criamos a FALA. Desde o primeiro dia, já combinamos que nossas peças seriam para todas as pessoas, independentemente do corpo que essa pessoa possuir. O nome FALA foi uma maneira de inserirmos as iniciais das palavras que nos representam, como família, amor, Alline, Luciana. Queríamos que fosse uma palavra fácil, então, depois de vários nomes, chegamos ao nome FALA.

A marca propõe representatividade e inclusão através de peças sem distinção de gênero, all size e para pessoas com deficiência. Por que essas causas são importantes para o mundo da moda e para vocês?

Todas as pessoas merecem ter acesso a roupas de boa qualidade, bonitas e confortáveis. É necessário combater a gordofobia, a homofobia, a pressão estética e o capacitismo em todas as vertentes e segmentos. Ninguém deveria sofrer para encontrar uma peça que sirva, mas, mais do que isso, que abraça o corpo e consiga transmitir a personalidade de cada pessoa.

Personalidades como Linn da Quebrada e Emicida já usaram roupas da marca. Como foi essa repercussão e o que ela gerou de visibilidade? Como eles conheceram a marca?

É um grande impacto termos nomes tão relevantes usando a FALA. Isso nos ajuda a chegar a mais pessoas e a transformar vidas através da moda e das causas que abraçamos. A Alline conhece o Emicida desde o começo da carreira dele, ela trabalhava no espaço em que ele começou a trilhar esse sucesso que ele tem hoje e são amigos próximos. Ele é um grande parceiro da FALA. A Linn foi através de produção mesmo, nos procuraram para produzir ela e Jup para um programa e Linn acabou ficando com algumas peças. Depois a produzimos para mais eventos. Ela levou roupas da FALA para o Big Brother Brasil 22, foi superemocionante.

O negócio de vocês tem também impacto social. Quais são os grupos sociais que a marca busca incluir na empresa e por quê?

Na FALA, temos profissionais diversos, pertencentes à comunidade LGBTQIAP+, pessoas pretas, gordas e abraçando os diferentes gêneros. Não falamos e lutamos apenas para atrair clientes, vivemos isso na prática, é o valor que nos guia. O primeiro passo, quando queremos transformar o mercado, precisa começar de dentro.

O que fez vocês optarem pela moda slow fashion?

Além do desejo de oferecer roupas de qualidade para nossos clientes, também nos preocupamos muito com o meio ambiente e como podemos ajudar a preservá-lo. Nossas roupas duram anos, é necessário apenas seguir as orientações de lavagem. Como as peças possuem durabilidade e são sem estampas, podem ser usadas em qualquer época do ano, são atemporais. E temos clientes que acabam repassando a peça depois de um período de uso, fazendo a moda girar e sem desperdício de tecido.

Como vocês analisam o cenário de moda slow fashion no Brasil? É um ambiente desafiador levando em consideração os altos preços da moda sustentável e o baixo poder de compra da população?

É desafiador porque realmente é um setor que requer um investimento de recursos maior, já que os materiais possuem uma qualidade superior. E, no caso da FALA, nossa produção é pequena, uma cooperativa familiar que produz as peças. Isso fica ainda mais difícil quando, além do slow fashion, ampliamos a visão para uma grade que atende mais de 14 tamanhos diferentes. Em contrapartida, as pessoas se “acostumaram” a comprar peças baratas e sem durabilidade e se assustam quando veem produtos com preços mais altos. Mas, pensando em custo-benefício, é muito melhor investir em uma peça que durará anos. Claro que não podemos levar essa premissa para todas as pessoas, afinal o Brasil acabou de voltar para o mapa da fome. Mas a ideia é que, havendo possibilidade, as pessoas devem investir em uma peça de melhor qualidade.

Vocês têm uma marca infantil, a Falinha, que segue os mesmos pilares da marca FALA: moda sem distinção de gênero e sustentável. Como a moda agênero pode estimular a identidade infantil?

Roupas não possuem gênero e não acreditamos que usar determinado tipo de peça estimule uma coisa tão séria e tão individual como a identidade de gênero. As peças são confortáveis, bonitas e vestem diferentes tipos de corpos.

O mundo fashion é um dos principais responsáveis pela poluição têxtil no mundo. Como é o processo de produção e descarte de restos de tecidos pela marca? Há algum projeto de upcycling na empresa?

Nós fazemos todo o possível para aproveitar o máximo do tecido, fazendo pequenas peças como cintos, prendedores de cabelo, mas tudo que sobra nós doamos, todos os retalhos. Como trabalhamos com algodão, existe uma grande busca desses retalhos para produção de tapetes, por exemplo.

Em uma entrevista para a Rádio Cidade Em Dia, vocês disseram que as roupas sob demanda são o principal negócio da marca hoje. Há chances da FALA vir a trabalhar somente com isso no futuro e por quê?

Só com isso não, porque fazemos muitos eventos e disponibilizamos algumas peças que ficam em estoque para pronta entrega. Mas é nosso principal formato de venda hoje em dia, sim, e gostamos muito. Isso evita que tenhamos que produzir milhares de peças sem a certeza da venda, o que também impacta diretamente no meio ambiente.

Há projetos para trazer mais sustentabilidade e/ou inclusão para a marca?

Queremos desenvolver um programa de retorno das peças que as clientes não quiserem mais, além de desenhar mais produtos que possam ser feitos a partir dessas sobras. Nós já somos uma marca bem inclusiva. Além da grade que temos, fazemos peças sob medida e apoiamos diversas causas. Agora nosso objetivo é conseguir ajudar cada vez mais o meio ambiente, através de peças sustentáveis e programas de incentivo mesmo.

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